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Gabrielle

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Sem Chão (2024) - O grito por justiça que ecoou no Oscar

O filme documenta a resistência dos civis, liderada por Basel Adra, que registra a expulsão de moradores para dar lugar a uma base militar.

Personagens

Yuval Abraham

Basel Adra

Hamdan Ballal

História

Por meia década, Basel Adra, um ativista palestino, filma sua comunidade de Masafer Yatta sendo destruída pela ocupação israelense, enquanto constrói uma aliança improvável com um jornalista do outro lado que se junta à sua luta.

História

Pode Ver Sem Medo

Em uma cerimônia marcada por discursos emocionantes e homenagens às histórias que merecem ser contadas, o Oscar de Melhor Documentário em Curta-Metragem de 2024 foi para "Sem Chão" (No Other Land) — uma produção palestina que não apenas emocionou o público, mas também trouxe visibilidade internacional para um drama real e contínuo: a luta pela permanência de famílias palestinas em suas próprias terras.

Narrado a partir da perspectiva de Basel Adra, um ativista nascido em Masafer Yatta, o documentário ganha ainda mais força por mostrar os eventos de dentro da zona de conflito. Essa região, formada por vilarejos nas montanhas ao sul da Cisjordânia ocupada, vive sob ameaça constante: o exército israelense ordenou que os palestinos deixassem suas terras para dar lugar a um campo de treinamento militar.
 

As cenas foram filmadas entre 2019 e 2023, antes do início da guerra entre Israel e o Hamas. Nesse período, o que se vê é uma sequência quase surreal de destruição — escavadeiras protegidas por soldados invadem os vilarejos e reduzem casas simples de concreto a escombros. Os moradores, desarmados e em choque, se refugiam em cavernas. Tentam manter algum senso de normalidade, com até mesmo TV de alta definição nas cavernas, enquanto esperam a próxima ofensiva.
 

Eles constroem à noite. E pela manhã, tudo é destruído novamente.

Basel divide a direção com Hamdan Ballal, também palestino, e com os israelenses Yuval Abraham (jornalista) e Rachel Szor (diretora de fotografia). Logo na chegada à vila, Yuval é confrontado: “O que você acha do que seu país está fazendo conosco?” — e responde sem rodeios: “Acho que é um crime.”
 

Essa frase se junta ao desabafo de um dos moradores: “Não temos outra terra”, que dá nome ao documentário.

As imagens captadas são duras de assistir. Um playground é demolido. Uma escola é destruída. Um poço é entupido com concreto e as tubulações de água são cortadas com uma motosserra. Colonos israelenses aparecem em cena atacando os moradores — enquanto os soldados, que deveriam manter a ordem, assistem em silêncio.
 

Os palestinos não têm armas, apenas celulares. E gravar se tornou um ato de resistência. As câmeras são temidas pelos soldados, que muitas vezes tentam impedi-los à força. Em uma das cenas mais emblemáticas, um grupo de moradores marcha com uma faixa dizendo “Vidas Palestinas Importam” e é recebido com granadas de efeito moral.
 

É um filme cruelmente real. Soldados empurram mulheres idosas, crianças choram, casas são destruídas diante dos olhos de famílias que vivem naquelas terras desde a década de 1830. Os palestinos não podem votar, suas placas de carro os distinguem dos israelenses, e suas únicas armas são a memória, as câmeras e a esperança de que, com visibilidade, o mundo não vire o rosto.

"Sem Chão" (No Other Land) não é apenas um documentário — é um ato de coragem. Uma resposta visual à opressão, um registro histórico feito por quem vive a violência, não por quem apenas observa de fora. Ele nos obriga a olhar, mesmo quando o impulso é desviar os olhos.
 

Enquanto parte do mundo debate narrativas, ali há famílias perdendo tudo, de novo e de novo. E mesmo assim, reconstruindo. À noite, escondidos, com medo — mas também com fé. Fé de que suas vozes sejam ouvidas, fé de que uma câmera na mão possa furar o silêncio internacional.
 

O Oscar deu visibilidade a essa história. Mas a responsabilidade agora é nossa — de assistir, compartilhar, questionar. Porque ignorar a injustiça não nos torna neutros. Nos torna cúmplices.


Uma parceria improvável
 

O filme também chama atenção por sua produção colaborativa entre palestinos e israelenses. Um dos co-diretores, Yuval Abraham, é judeu israelense. A união de vozes antagônicas, mas aliadas pela justiça, gerou impacto. No palco do Oscar, Abraham disse:
 

“É inaceitável que meu parceiro, Basel, não esteja aqui comigo hoje porque ele é palestino. Eu, como israelense, tenho liberdade de movimento. Ele não.”
 

A fala provocou aplausos e trouxe à tona a questão da mobilidade restrita de palestinos devido às políticas de ocupação — Basel não pôde comparecer à cerimônia em Los Angeles.
 

Curiosidades

Apesar de ser o documentário mais premiado e aclamado pela crítica de 2024, indicado ao Oscar de Melhor Documentário e distribuído em 24 países, "No Other Land" não conseguiu encontrar um distribuidor nos EUA devido ao seu tema.

O documentário foi editado em uma caverna em Masafer Yatta.

 

Muitas cenas foram captadas com o próprio celular de Basel, enquanto ele fugia de soldados ou documentava casas sendo demolidas.


Dois dias após "No Other Land" ser indicado ao Oscar de Melhor Documentário, colonos israelenses invadiram Masafer Yatta, queimando e destruindo casas.

Primeiro filme palestino a ganhar um Oscar.

Em 24 de março de 2025, cerca de 20 colonos israelenses mascarados sequestraram o codiretor Hamdan Ballal após um ataque em sua aldeia natal, Susya, na Cisjordânia. O ataque o deixou com ferimentos na cabeça e no estômago, e ele foi colocado em uma ambulância para atendimento médico quando soldados das Forças de Defesa de Israel o sequestraram. O exército israelense disse que Ballal havia sido detido para interrogatório. Não havia informações sobre o que aconteceu com ele depois disso e ele ficou desaparecido por 24 horas. Seu sequestro virou manchete no mundo todo, e Ballal foi libertado no dia seguinte e enviado a um hospital em Hebron após ser algemado e vendado por soldados israelenses em uma base militar. Ballal disse que os soldados estavam falando sobre o Oscar enquanto o espancavam e que, depois que "No Other Land" ganhou o Oscar, os ataques se concentraram mais nos cineastas.

O título "No Other Land" vem de uma cena-chave do filme: uma mulher palestina está diante de soldados israelenses fortemente armados que guardam as demolições de casas depois que sua casa foi destruída e pergunta para onde eles [os moradores] deveriam ir: "Não temos outra terra, é por isso que sofremos por ela", diz ela.

 

Onde assistir?

O documentário está no Prime Video.

Avaliações

  • IMDB logo 8,3
    Rotten Tomatoes logo 100%
    PVSM logo 8,5

Tags:

#semchão #nootherland #documentário #vencedordooscar

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