O ritual de Bring Her Back (2025) não é só o clímax do filme — é também o espelho do desespero humano diante da perda. Escrito e dirigido pelos irmãos Philippou, o filme da A24 nos entrega um final sombrio, simbólico e profundamente emocional, onde o sobrenatural encontra o luto... e o amor se transforma em maldição. O ritual – Etapas de um amor doentioLaura (Sally Hawkins), destruída pela morte da filha, Cathy, decide desafiá-la. Não com orações, mas com um ritual obscuro, repleto de ocultismo, dor e símbolos sensoriais. O processo, apresentado de forma perturbadora e quase ritualística, mistura corpos, objetos, gravações antigas e atos extremos. Cada passo parece ensaiado como um teatro macabro — só que real. Etapa 1 – O hospedeiroLaura sequestra um menino, Connor, que será o receptáculo da alma perdida. Ela o prende em um círculo feito de giz e o expõe a forças que o transformam. O garoto começa a mudar, lentamente possuído por uma entidade chamada Tari — nome descoberto nas fitas antigas que Laura assiste compulsivamente. Essas gravações, em russo, contêm instruções ritualísticas, vozes distorcidas e símbolos ocultos. Etapa 2 – O banquete profanoEm um dos momentos mais chocantes do filme, Laura entrega ao garoto o corpo congelado da própria filha. Connor, agora possuído, o devora. Não há metáforas aqui — o horror é direto, cru, ritualístico. É a preparação para uma transferência de alma. Etapa 3 – A nova vítimaPiper, com aparência semelhante à filha de Laura, precisa morrer da mesma forma que Cathy: afogada. Laura repete o cenário exato da morte da filha, como se quisesse “abrir um portal” reencenando a tragédia. O objetivo? Fazer de Piper o novo corpo de Cathy. Etapa 4 – O renascimento grotescoNo auge do ritual, Connor — tomado por Tari — deveria regurgitar o corpo de Cathy diretamente na boca de Piper. A ideia é tão simbólica quanto bizarra: nascimento ao contrário, onde a morte pariu a vida. A interrupçãoQuando tudo parece inevitável, Piper, em desespero, grita “mãe!”. E esse grito quebra Laura. Ela hesita. O ritual falha. Ou melhor: revela sua verdadeira natureza. Não era sobre trazer alguém de volta. Era sobre não conseguir deixá-la ir. O final – Entre realidade e delírioO filme termina com Laura deitada ao lado do corpo congelado de Cathy. Mas em sua mente, ela a vê sorrindo, viva, aquecida em seu colo. É um momento de paz — falsa, talvez — mas profundamente humano. A imagem final não é de terror. É de negação. De alguém que se recusa a dizer adeus. Piper sobrevive. Mas nada volta a ser como antes. Andy perde a chance de protegê-la, e Piper é, de certa forma, “tomada” pelo ritual. Se Cathy não voltou… alguém saiu dali diferente. O verdadeiro ritual: o lutoMais do que um manual de magia negra, Bring Her Back mostra o luto como uma força que pode distorcer a realidade. O ritual conduzido por Laura talvez nunca tenha tido chance de funcionar — ao menos não da forma como ela queria. Mas ele representa algo: a recusa em aceitar a morte. A obsessão por reviver o que foi perdido. O amor que deixa de curar… e começa a corroer. No fim, a pergunta que o filme joga no colo do espectador é simples, mas devastadora:Você estaria disposto a sacrificar tudo para trazer alguém de volta?E se trouxer… será que ainda será essa pessoa? Se você curte finais abertos, intensos e com uma carga simbólica poderosa, Bring Her Back vai ficar na sua cabeça por dias. E talvez, no seu pesadelo também.
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O cinema brasileiro tem mais um motivo para se orgulhar. O aclamado "Cidade de Deus" (2003), dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund, conquistou um lugar de destaque na lista dos 100 melhores filmes do século 21, elaborada pelo The New York Times. A obra ocupa a 15ª posição no ranking, figurando ao lado de grandes clássicos contemporâneos. Baseado no livro homônimo de Paulo Lins, o filme retrata a dura realidade da favela Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. A narrativa acompanha os impactos da guerra entre facções criminosas, milicianos e a omissão do poder público, sob a perspectiva de moradores que decidem se unir para enfrentar a opressão. É um retrato visceral da violência urbana e da luta pela sobrevivência em meio ao caos, com forte apelo social e estético. Além do reconhecimento da crítica internacional, Cidade de Deus foi o representante brasileiro no Oscar 2004, onde recebeu quatro indicações: Melhor Direção, Roteiro Adaptado, Fotografia e Montagem. Mesmo não tendo vencido, o feito marcou um divisor de águas para o cinema nacional no exterior. A seleção do New York Times foi baseada em uma ampla consulta com mais de 500 personalidades da indústria cinematográfica — entre diretores, roteiristas, atores e críticos renomados, como Guillermo del Toro, Sofia Coppola, Julianne Moore, Pedro Almodóvar e muitos outros. Confira a seguir os 100 filmes que aparecem na lista: Parasita (2019), de Bong Joon-hoMulholland Drive (2001), de David LynchSangue Negro (2007), de Paul Thomas AndersonAmor à Flor da Pele (2000), de Wong Kar-WaiMoonlight (2016), de Barry JenkinsOnde os Fracos Não Têm Vez (2007), de Ethan Coen e Joel CoenBrilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), de Michel GondryCorra! (2017), de Jordan PeeleA Viagem de Chihiro (2001), de Hayao MiyazakiA Rede Social (2010), de David FincherMad Max: Estrada da Fúria (2015), de George MillerZona de Interesse (2023), de Jonathan GlazerFilhos da Esperança (2006), de Alfonso CuarónBastardos Inglórios (2009), de Quentin TarantinoCidade de Deus (2003), de Fernando Meirelles e Kátia LundO Tigre e o Dragão (2000), de Ang LeeO Segredo de Brokeback Mountain (2005), de Ang LeeE Sua Mãe Também (2001), de Alfonso CuarónZodíaco (2007), de David FincherO Lobo de Wall Street (2013), de Martin ScorseseOs Excêntricos Tenenbaums (2001), de Wes AndersonO Grande Hotel Budapeste (2014), de Wes AndersonBoyhood (2014), de Richard LinklaterEla (2013), de Spike JonzeTrama Fantasma (2017), de Paul Thomas AndersonAnatomia de uma Queda (2023), Justine TrietAdaptação (2002), de Spike JonzeBatman: O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher NolanA Chegada (2016), de Denis VilleneuveEncontros e Desencontros (2003), de Sofia CoppolaOs Infiltrados (2006), de Martin ScorseseMissão Madrinha de Casamento (2011), de Paul FeigA Separação (2011), de Asghar FarhadiWall-e (2008), de Andrew StantonO Profeta (2010), de Jacques AudiardUm Homem Sério (2009), de Ethan Coen e Joel CoenMe Chame Pelo Seu Nome (2017), de Luca GuadagninoRetrato de uma Jovem em Chamas (2019), de Céline SciammaLady Bird (2017), de Greta GerwigYi Yi (2000), de Edward YangO Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre JeunetO Mestre (2012), de Paul Thomas AndersonOldboy (2005), de Park Chan-WookEra uma vez em... 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E a presença de Cidade de Deus entre os grandes nomes só confirma o seu lugar na história.
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